Paul Pierce e uma lição para o Mavs

Boston 98, Los Angeles 88. O jogo 1 das Finais deste ano foi apenas uma página no novo capítulo desta histórica rivalidade. Daqui 10 anos, quando eu me lembrar desta partida, terei a cena acima retratada como a grande lembrança da noite.

Após estar perdendo por 5 pontos no intervalo do jogo, o Boston Celtics se volta para seu líder, o ala Paul Pierce, para buscar a virada. Na marca de 6:49 restantes, o sempre excelente (mas não nessa noite) Kobe Bryant arremessa um lindo "fade-away" e faz mais dois pontos para o Los Angeles Lakers. O lance, apesar de bonito, foi trágico para o C's e seus torcedores.

Pierce, que nunca teve uma lesão séria, cai e se contorce de dor, segurando seu próprio joelho. Apesar de ser um MFFL, imaginava o que passava nas mentes dos torcedores de Boston ao ver Tony Allen e Brian Scalabrine carregarem seu capitão para fora.

Eis que, 1 minuto e 45 segundos depois, Pierce, com seu joelho direito enfaixado e mancando, volta ao banco do Celtics e, conseqüentemente, ao jogo. Logo em seguida, "The Truth" acerta dois triplos em apenas 22 segundos, sepultando simbolicamente o Lakers, ainda que estivéssemos apenas no terceiro quarto.

O que essa pequena anedota (que eu com certeza guardarei na minha mente para sempre) tem a ver com o nosso querido Mavs? Simples. Raça. Vontade. Entrega. Essas palavras resumem bem o que Pierce demonstrou ontem ao voltar para a quadra.

Pierce, que quando criança era um torcedor fanático do Lakers, hoje é um dos ídolos do Celtics. Mesmo atuando contra sua equipe de coração, o ala não iria deixar uma lesão (séria ou não) impedi-lo de conquistar o tão sonhado título. Segundo o jogador, ele não pensava em nada quando se lesionou. "Apenas queria voltar à quadra", disse.

Essa atitude deveria estar presente em todos os jogadores e times. No Mavs então, nem se fala. Nosso ídolo-mor, Dirk Nowitzki, é xingado por todo e qualquer jogador que não tem raça, que é fracote e covarde. Do elenco atual, apenas um jogador dá demonstrações de ter raça o tempo todo (Jason Terry). Quanto ao restante, é fácil ter raça e vontade quando se está 20 pontos à frente do Miami Heat. O que aperta é se entregar e se jogar em quadra quando se está perdendo por 5 para o San Antonio Spurs.

Na série contra o Golden State Warriors em 2007 e no confronto contra o New Orleans Hornets neste ano, ficou claro que o time necessita de uma "injeção" de raça e vontade. Nunca considerei e ainda não considero nosso elenco inferior a esses dois grupos. A diferença foi a vontade. O Warriors quis provar para o mundo que nosso time não era tudo isso que montavam, que 67 vitórias viravam zero nos playoffs. E conseguiram. O Hornets então, mostraram que o armador hall da fama Jason Kidd era nada mais que um obstáculo (ou seria brinquedo?) para Chris Paul.

Não podemos voltar atrás e refazer as duas séries, mas quem sabe, com um pouco mais de raça, de vontade e de entrega, o Mavs não teria saído vencedor de ambos confrontos. Para a temporada que vem, espero que Nowitzki, Kidd e companhia (não cito mais nomes pois, além desses dois, poderemos ter uma equipe totalmente modificada) lembrem-se de Pierce e do jogo 1 das Finais. Porque eu com certeza me lembrarei.